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A pandemia acelerou o processo de digitalização e esse foi o ano do comércio eletrônico
Reportagem

A pandemia acelerou o processo de digitalização e esse foi o ano do comércio eletrônico

Pensar novas táticas para alcançar os clientes e novidades para a operação, como soluções em Inteligência Artificial (IA), fazem parte do novo pensamento que vem tomando conta do mercado. Estar online se tornou primordial para sobreviver
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NEIVA Maryana já vinha investindo no online e saiu na frente durante a crise do novo coronavírus (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima NEIVA Maryana já vinha investindo no online e saiu na frente durante a crise do novo coronavírus

A quantidade de compras realizadas online no Brasil entre janeiro e novembro deste ano deu um salto de 70,3%. O faturamento atingiu R$ 115,32 bilhões, alta de 69,6% ante igual período. E o número de lojas que aderiram aos canais de venda online somente no período da pandemia passa de 150 mil, enquanto a média mensal era de 10 mil novos estabelecimentos. Esses são dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), que podem definir este como o ano do e-commerce.

O período de isolamento ocasionado pela pandemia fez com que a demanda dos clientes se restringisse quase que exclusivamente para o ambiente online. De acordo com a Abcomm, mesmo depois que as lojas voltaram a abrir no presencial, 5,8 milhões de novos clientes foram captados nas plataformas de venda virtual. Uma outra pesquisa, do instituto Ipsos, encomendada pelo Google Brasil, revela que metade dos brasileiros estão comprando online e 71% vão pesquisar primeiro no digital para comprar itens para o Natal.

Quem estava atenta para esse movimento no mercado, já vinha investindo e saiu na frente durante o lockdown, foi a proprietária da marca de roupas femininas Marylú, Neiva Maryana. Ela diz que o faturamento melhorou mais de 50% durante o período em que passou a comercializar nos canais digitais.

"Atendemos em Whatsapp e direct do Instagram, mas, devido à grande procura, lançamos um site. Em relação ao ano passado, o faturamento dobrou. Pergunto-me que tipo de crise foi essa, porque para nossa marca foi muito bom, evoluímos como negócio, humanizou a marca por causa da relação criada nas redes", afirma.

O crescimento na demanda atacadista fez com que o negócio, tocado por Neiva e o marido, precisasse de mais gente. Por isso, contratou uma funcionária exclusivamente para tratar da demanda vinda dos canais digitais.

No varejo, o mesmo aconteceu. Na rede Divino Fogão, todas as unidades ficam localizadas em praças de alimentação de shopping centers e, na pandemia, o delivery, que era um agregador, tornou-se protagonista e as entregas em domicílio cresceram 600%. Com foco total no delivery, a rede lançou o projeto Dark Kitchen, cozinhas invisíveis que atuam como parceiros na preparação e entrega dos produtos.

Reinaldo Varela, fundador da rede, diz que, com o projeto, encontrou parceiros com experiência em alimentação, como hotéis e lanchonetes, que tinham espaço físico e tempo ocioso das cozinhas para se dedicarem à produção de pratos exclusivos do Divino Fogão para entrega. "A pandemia permitiu enxergar um gargalo que antes não era possível. Isto irá permitir a ampliação do raio de alcance das entregas, além de contribuir para que o licenciado rentabilize seu negócio, especialmente neste momento em que se ensaia uma retomada da economia", complementa.

Para o professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Vivaldo José Breternitz, o e-commerce veio para ficar e será natural que as marcas tenham as duas opções de venda, tanto digital quanto presencial. O crescimento das comercializações virtuais, portanto, deve continuar, mas não tão aceleradamente.

Isso deve acontecer por causa da vontade do próprio consumidor de deixar o isolamento e voltar à antiga realidade, de ir nas lojas e experimentar produtos. Mas também por problemas estruturais da cadeia do e-commerce no Brasil, como a logística, que tem deficiência de entrega no Norte e Nordeste e em cidades do interior, analisa Breternitz.

Ainda segundo o professor, houve grande evolução dos negócios, principalmente entre os que nem tinham qualquer relação profissional com o ambiente virtual. Mas é preciso ficar atento às novidades que ainda virão. "Quem trabalha com o comércio eletrônico deve ficar alerta ao desenvolvimento tecnológico, por novidades, que não chegam tão rápido, mas que devem impactar tremendamente, como será o 5G. O olho na tecnologia é importante e o que deve impactar bastante no curto prazo é a Inteligência Artificial (IA), que deve potencializar o desempenho do varejo".

Sobre IA no varejo, a LLmasoft, fornecedora em soluções corporativas em IA, publicou a Pesquisa Global de Varejo, com 82 executivos do varejo, que revela que 73% deles estão convencidos de que a IA pode agregar valor à previsão de demanda.

"É perceptível que a digitalização se tornou um caminho sem volta. Neste cenário, não há dúvidas de que a empresa que utiliza tecnologia de ponta para trabalhar melhor seus dados se destacará no mercado. A pesquisa mostrou que muitos países se destacaram no varejo e no Brasil não foi diferente, principalmente pelo 'boom' do e-commerce", comenta Max Mascarenhas, vice-presidente de Vendas na América Latina da LLamasoft.

Evolução do comércio eletrônico

Rodrigo Bandeira, vice-presidente da ABComm, avalia que o e-commerce teve um crescimento exponencial no 1° semestre de 2020 em virtude do fechamento do comércio físico, tradicional, em todo país por causa da pandemia, mas que é importante ressaltar que ele se manteve mesmo após a reabertura gradual do comércio. "(Isso aconteceu) Tanto pela maior disponibilidade de lojas na Internet que começaram suas operações este ano, quanto pelo ingresso de milhares de novos consumidores que fizeram a sua primeira compra na Internet, no ano de 2020".

"O consumidor brasileiro entendeu que as compras pela Internet são uma forma segura de se manter longe de aglomerações e muitas vezes de economizar nas compras", afirma o executivo.

BLACK FRIDAY

Numa pesquisa da Social Miner, feita em parceria com Compre&Confie e Neotrust, Yapay, Octadesk, All iN e Opinion Box, o faturamento dos e-commerce foi decifrado: chegou aos R$ 5,1 bilhões, entre 26 e 27 de novembro, alta de 31% com a edição do ano passado. Moda (25%) e Eletrônicos (24%) foram os favoritos dos consumidores.

LIÇÕES PARA O VAREJO

A pesquisa CX sobre experiências de consumo, da Kantar, revela que o consumo em supermercados e varejos de moda durante o distanciamento social trouxe lições. Juliana Honda, líder de CX da Kantar diz: "Apenas 17% dos entrevistados acreditavam estar satisfeitos ou maravilhados com as experiências entregues por marcas de varejo geral, por exemplo."

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